terça-feira, 17 de maio de 2016

Melhore os freios com baixo investimento



Se a performance dos freios de sua moto não agrada ou simplesmente falta precisão na alavanca, você não precisa necessariamente trocar de moto ou de sistema de freio. Na maioria dos casos, substituir alguns itens que já fazem parte da rotina de manutenção preventiva traz grandes resultados em sistemas a disco. Mesmo se você não quiser fazer um upgrade é importante saber diferenciar componentes de qualidade para evitar a desagradável surpresa de descobrir que seu freio piorou depois da revisão.

Quando você aciona a alavanca, está pressionando o fluido que corre pelo flexível até os pistões da pinça. São estes que empurram a pastilha contra o disco, que gira fixado à roda, fazendo a moto parar. Três componentes envolvidos nesse processo devem ser inspecionados periodicamente e eventualmente trocados, seja por desgaste ou para aprimorar a performance, impactando diretamente a distância e precisão da frenagem: fluido, flexível e pastilha.

Para mostrar na prática e com números o potencial dessas mudanças escalamos a Suzuki Bandit 650 do diretor de arte de Duas Rodas, que originalmente vem equipada com fluido de especificação DOT 4, flexíveis convencionais de borracha e pastilhas Tokico já de boa qualidade. Quanto maior a especificação DOT do fluido (sigla de Department of Transportation, ou Departamento de Transporte americano, que estabeleceu os parâmetros), maior o ponto de ebulição e resistência à fadiga. O DOT 4 é o atual padrão do mercado e o 5.1 equipa principalmente modelos esportivos ou usados em autódromos, por causa do uso severo dos freios. É preciso atenção para evitar a especificação inferior DOT 3, ainda encontrada à venda, que pioraria a condição original do sistema. Com baixa quilometragem e passados dois anos da fabricação, a Bandit ainda tinha a maior parte das pastilhas originais para gastar, porém havia atingido o período recomendado pelo manual para troca do fluido.

O líquido de dietileno glicol é anticongelante, retardante de ebulição e anticorrosivo, mas absorve umidade do ambiente. Por isso precisa ser substituído a cada dois anos independentemente da quilometragem rodada e o frasco aberto não deve ter sobras aproveitadas posteriormente, já que a água absorvida reduz os benefícios do fluido, em especial a capacidade de retardar a ebulição – permite a formação de bolhas com mais facilidade e o efeito de absorver parte da pressão aplicada sobre a alavanca, como uma mola.

Esse mesmo efeito é comumente causado pelos flexíveis de borracha quando a temperatura do fluido aumenta (ou antes disso, pelo simples fato de serem de má qualidade), amolecendo a parede do duto e permitindo que se expandam, fazendo com que parte da pressão aplicada à alavanca não chegue à pinça. Em casos extremos de superaquecimento, a alavanca chega a encostar na manopla sem que a moto pare. Começamos nosso teste trocando o fluido por um DOT 4 novo e medindo as distâncias de uma sequência de 15 frenagens com o equipamento original de fábrica, número que se estabilizou em 54 metros percorridos a partir de 100 km/h.

Em seguida, trocamos os flexíveis pelos revestidos com malha de aço, que evitam a dilatação passando a transferir toda a pressão da alavanca diretamente à pinça. Independentemente da vontade de fazer o upgrade, o manual recomenda a troca dos flexíveis a cada quatro anos por causa do ressecamento da borracha e essa pode ser uma boa oportunidade para elevar a performance. “A vantagem mais evidente da troca foi a sensibilidade ao tato na alavanca”, explica o editor de testes Ismael Baubeta. “Você percebe exatamente a resposta do freio, porque a pressão que aplica na alavanca gera uma reação direta. A ‘pegada’ inicial do freio fica mais instantânea, porque não é preciso vencer a dilatação da borracha, e usa-se menos curso e força na alavanca para se obter uma boa frenagem.” A distância necessária para estancar a Bandit foi reduzida em 3 metros com os flexíveis fornecidos pela Hel Performance.

ABC das pastilhas

Pastilhas para um mesmo modelo de moto podem ser fabricadas de compostos com carbono, cerâmica, metal, celulose e outras resinas de baixo custo. Felizmente, cada “receita” precisa ter sua capacidade de fricção medida e corresponde a um índice de fricção DOT: EE, FE, FF, GG e HH, em que o mínimo (EE) é 0.25 e o máximo (HH) 0.65. Se a fabricante atender aos requisitos DOT mínimos gravará as letras no verso da placa metálica que sustenta a pastilha e informará isso na embalagem junto com a composição.

Para a Bandit encontramos jogos de composição “orgânica” com celulose e resina por R$ 30 cada, sem especificação de classificação DOT na embalagem, mas que certamente não superam 0.25; as de carbono e cerâmica HH originais Tokico por R$ 400 e de reposição com as mesmas características por R$ 150; por fim, as HH racing com mais metal na composição e comumente usadas nos autódromos, por a partir de R$ 240. Outra característica importante das pastilhas de boa qualidade e maior índice de fricção é preservarem os discos, que no caso deste modelo custam R$ 1.400 a unidade.

O efeito das pastilhas orgânicas de baixo custo sobre os discos foi um dos principais problemas quando retiramos as originais e partimos novamente para os testes. “Precisei aplicar mais força na alavanca e a distância percorrida foi quase 2 metros maior que com as pastilhas originais”, diz Baubeta. “O maior problema não foi esse, mas a fadiga por superaquecimento que fez a distância aumentar a cada nova frenagem. Ela não conseguiu manter o resultado, deixou os discos escurecidos e até a pinça ficou fervendo.” Claramente houve um problema de dissipação de calor pelo material inadequado da placa metálica, que transferiu a temperatura das pastilhas superaquecidas aos pistões e restante do conjunto. “Se a Bandit já não estivesse com os flexíveis revestidos, que evitaram a dilatação e total perda de freio, os resultados seriam piores e realmente perigosos. A falta de qualidade dos materiais e acabamento é visível a olho nu.”

As últimas medições foram com as pastilhas de reposição para uso esportivo Vesrah, japonesas, que prometem desempenho ótimo em temperaturas elevadas. A distância diminuiu 3 metros em relação às pastilhas originais e se manteve com a menor variação na sequência de 15 frenagens. “Também senti mais potência no início da frenagem e precisei aplicar menos força à alavanca”, conclui o editor de testes.

fonte: DuasRodas